A multinacional alemã Melitta fechou ontem a aquisição das marcas mineiras de café Barão e Forte D+, que pertenciam ao Grupo Mogyana, de Piumhi (MG). O valor do negócio, que envolve também equipamentos para a produção de café torrado e moído, não foi revelado. A operação é mais um capítulo no efervescente cenário de consolidação pelo qual passa o mercado de café no Brasil e que vem ganhando corpo desde o ano passado.
Em sua primeira entrevista, com exclusividade ao Valor, Marcelo Del Nero Barbieri, o novo presidente da Melitta na América do Sul, afirmou que a aquisição dos ativos faz parte da estratégia da companhia que busca fortalecer sua posição no mercado brasileiro, com maior diversificação geográfica.
Hoje, a marca
Melitta tem 9% do pulverizado mercado nacional de café torrado e moído em
volume, atrás das marcas Pilão, da Jacobs Douwe Egberts (JDE), e 3corações, do
grupo 3corações, segundo a Nielsen. \"Com a aquisição das duas marcas, que
são tradicionais em Minas Gerais, vamos ficar entre as três maiores no
Estado\", disse Barbieri. Atualmente, as marcas líderes em Minas são
3corações, Fino Grão, ambas do grupo 3corações, e Barão.
A Melitta já
é líder no Sul do país, com a marca Bom Jesus, e também está entre as três primeiras
em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas ainda tem uma participação baixa em Minas
e no Nordeste do país, segundo Barbieri, o que explica a estratégia.
Os
equipamentos adquiridos no negócio serão transferidos para a fábrica da Melitta
em Avaré, no interior de São Paulo, onde as marcas Barão e Forte D+ passarão a
ser produzidas, de acordo com o executivo. A compra dos ativos do Grupo Mogyana
vai adicionar à Melitta uma capacidade de produção de 9 mil toneladas de café
torrado e moído por ano.
Embora tenha
sido econômico em números, Barbieri disse que a aquisição permitirá à companhia
alemã superar a meta de alcançar um faturamento bruto de R$ 1,5 bilhão
inicialmente previsto para este ano no Brasil. Em 2016, a empresa faturou no
país R$ 1,36 bilhão, com crescimento de 19% sobre o ano anterior.
O avanço na
receita ultrapassou os 14% estimados em meados do ano passado. \"Foi melhor
do que imaginávamos\", afirmou Barbieri. Ele atribuiu o incremento ao
lançamento de produtos como café em embalagem flexível em alguns mercados do
país.
De acordo com
o presidente da Melitta, apesar da crise econômica no Brasil, não houve queda
nas vendas de café, o que também explica o avanço do faturamento no ano
passado. \"O que vimos no mercado foi a migração para marcas mais econômicas.
Mas as pessoas não deixaram de tomar café. O café tem 96% de penetração nos
lares brasileiros\", observou ele.
Num momento
de consolidação no mercado de café, em que gigantes como a JDE avançam no
tabuleiro do Brasil, havia praticamente uma cobrança para que a múlti alemã
também fizesse um movimento, como admitiu o então presidente e CEO da Melitta
Brasil Bernardo Wolfson em entrevista ao Valor, em meados do
ano passado. Na ocasião, ele disse que aquisições eram prioridade da empresa,
assim como a entrada no segmento de cápsulas de café.
Ontem,
Marcelo Barbieri reforçou a intenção da companhia de entrar no segmento de
cápsulas no Brasil. Mas, assim como Wolfson, disse que isso só irá acontecer
quando a Melitta encontrar um \"diferencial para o consumidor\". A
alemã Melitta comercializa monodoses de café apenas nos EUA, e o produto é
compatível com as máquinas do sistema Keurig, de multibebidas.
Barbieri
sinalizou ainda que outras aquisições estão no radar da Melitta para enfrentar
o avanço de empresas como a JDE, controlada pela JAB Holding, que em 2016
comprou o Café Seleto e neste ano adquiriu as marcas locais de café da Cia
Cacique, e a 3corações, que comprou as marcas de café e derivados da Cia Iguaçu
de Café Solúvel.
\"Avaliamos
todas as possibilidades de aquisições. Temos intenção de continuar crescendo
com aquisições também\", disse, acrescentando que a meta é elevar em 35% a
receita bruta no país em dois anos contados a partir de 2016.
Além de estar
entre as maiores de café no Brasil, a Melitta é líder no segmento de filtros de
papel. No mundo, a multinacional alemã de capital fechado teve receita líquida
de R$ 5,3 bilhões em 2015, último dado disponível.
Além de
fábrica em Avaré, a Melitta tem unidade de café em Bom Jesus (RS) e de filtros
e papéis industriais em Guaíba (RS).
Por Alda
do Amaral Rocha e Cibelle Bouças | De São Paulo
Fonte
: Valor