A exportação brasileira de café arábica deve recuar este ano em
decorrência da menor colheita neste que é um ciclo de baixa para a cultura. Mas
esse quadro não impede que o grupo Montesanto Tavares, um dos maiores
exportadores de café do país, tenha metas ambiciosas para 2017. No planejamento
da holding mineira – que controla as tradings Ally Coffee, Atlantica Coffee,
InterBrasil Coffee e Cafebras -, a comercialização de arábica deve alcançar
3,38 milhões de sacas este ano, sendo uma fatia de 70%, cerca de 2,37 milhões
de sacas, em vendas ao exterior, e o restante no mercado brasileiro.
Se a meta se confirmar, o volume exportado pelo grupo – que também vende
cafés especiais – terá avanço expressivo. Em 2015, a empresa, que comercializa
cafés de terceiros principalmente, movimentou 2,75 milhões de sacas, sendo 1,51
milhão na exportação. No ano passado, negociou um total de 2,8 milhões de sacas
e exportou 1,6 milhão. "Este ano a meta é comercializar 3,38 milhões, e
cerca de 30% deve ficar no mercado interno por causa da maior demanda por
arábica em função da escassez de conilon", diz Rogério Schiavo, sócio da
holding.
Ele observa que a menor oferta de café conilon no mercado, em função de
problemas climáticos no Espírito Santo, principal Estado produtor, fez as
indústrias torrefadoras ampliarem a demanda por arábica para a fabricação de
seus blends, o que tem se refletido nas vendas.
Para o faturamento bruto da holding, a previsão é de um avanço de quase
16% este ano, para R$ 2,2 bilhões. Segundo o empresário, o resultado de 2016
ficou abaixo dos R$ 2,1 bilhão inicialmente previstos em função do dólar, que
influencia os preços internacionais do café e as exportações.
De acordo com Schiavo, para ampliar o volume movimentado de café arábica
mesmo num ano de menor oferta – a Conab estima uma produção entre 35,01 milhões
e 37,88 milhões sacas, com redução de até 19,3% -, a estratégia do grupo tem
sido fazer a originação "cada vez mais perto do produtor".
Hoje, 90% dos cafés que a Monte Santo compra vêm de Minas Gerais e o
restante de São Paulo e Espírito Santo. Os fornecedores são cooperativas e produtores
do grão. A empresa tem seis unidades de comercialização em Minas Gerais, e o
plano é elevar esse número para 15 em cinco anos para ter mais capilaridade.
Serão 13 unidades em Minas, uma em São Paulo e uma no Espírito Santo.
"Relacionamento com produtor é o que sustenta o negócio", afirma
Schiavo.
Uma pequena parte do volume de café vendido pelas tradings da
Montensanto Tavares é produzida nas fazendas do grupo. A empresa foi fundada há
13 anos, por Ricardo Tavares, Rodrigo Montesanto e Rogério Schiavo, para
comercializar café, mas em 2008 os sócios compraram fazendas e começaram a
produzir o grão dois anos mais tarde.
São seis fazendas com três mil hectares de café arábica, uma em
Pirapora, uma em Ninheira, duas em Capelinha – as quatro em Minas Gerais.
Outras duas estão em Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano. Na safra 2016/17,
a empresa colheu 70 mil sacas em suas propriedades, sendo 30 mil de cafés
especiais. No ciclo 2017/18, que começa a ser colhido no fim do semestre, a
produção total será bem menor, de 25 mil sacas no total.
Afora o ciclo de baixa da cultura, Schiavo explica que a forte queda na
produção é reflexo de intervenções feitas nas lavouras, como poda e renovação
de cafezais nas duas fazendas de Luís Eduardo e na de Capelinha. "Na próxima
safra, a 2018/19, devemos voltar a produzir 80 mil sacas porque as intervenções
feitas permitirão melhorar a produtividade", afirma.
A maior parte do volume comercializado pelas tradings do grupo
atualmente é de cafés convencionais (chamados de comerciais), mas o grupo
Montesanto Tavares tem investido nos últimos anos para ampliar as vendas
externas de grãos especiais, que somaram 60 mil sacas no ano passado. Para este
ano, a previsão é que as exportações atinjam 100 mil sacas. Conforme Schiavo, "a
maior parte do café especial é destinada ao exterior, mas a demanda é crescente
no Brasil também".
No ano passado, a Ally Coffee, que comercializa cafés especiais ou
comerciais, com foco nos mercados de EUA e Europa, abriu escritório na Suíça. E
ainda neste semestre, vai inaugurar outro em Gotemburgo, na Suécia.
O Japão é outro mercado importante para os cafés comercializados pelo
grupo Montesanto Tavares. O mercado é atendido pela trading Cafebras, na qual a
Montesanto tem joint venture com a japonesa Itochu. As duas outras tradings da
holding mineira, a Atlântica e a Interbrasil, atuam com cafés comerciais finos
e comerciais médios, respectivamente.
Entre os principais clientes do grupo no exterior estão a suíça Nestlé,
as americanas Starbucks e Dunkin’ Donuts e a japonesa Ueshima Coffee Co (UCC).
No Brasil, a Montesanto Tavares vende à gigante Jacobs Douwe Egberts (JDE),
dona da marca Pilão, à 3corações e à Melitta.
O negócio de café representa 80% da receita do grupo Montesanto Tavares,
mas a holding também atua no segmento de armazéns gerais para café, transporte
de café, alimentos e veículos.
(Alda do Amaral Rocha | De São Paulo)
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Por Alda do Amaral Rocha | De São Paulo
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Fonte : Valor