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15/06/2018

Fretes Rodoviários de Cargas: nota ao público

Diante das consequências emanadas da greve dos caminhoneiros ocorrida no último mês de maio e das tentativas do Governo Federal de estabelecimento de preços mínimos de fretes rodoviários, o Centro do Comércio de Café de Vitória, associação de classe que representa os comerciantes e exportadores de café do Estado do Espírito Santo, vem a público compartilhar acerca do momento crítico pelo qual atravessa o setor e seus possíveis resultados para a cafeicultura capixaba.

 

O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do Brasil, respondendo por cerca de 25% da produção nacional. Em se tratando de café do tipo conilon, participamos com 75% da produção nacional, sendo líder nesse segmento. O conilon é altamente demandado pela indústria nacional, um setor que processa anualmente cerca de 1,3 milhões de toneladas de café verde.

 

Durante os últimos três anos, o Espírito Santo produziu menos do que a sua capacidade em função da longa estiagem que atravessou, entretanto, em 2018 espera-se uma produção bem próxima do recorde histórico. Iniciada em maio, a colheita já vinha possibilitando o incremento das exportações de café, contudo, em maio, devido à greve dos caminhoneiros, as vendas para o exterior ficaram cerca de 37% abaixo do esperado.

 

Com o desfecho da greve e após a edição da Resolução da ANTT n.º 5.820/2018 que publicou as tabelas de preços mínimos de quilômetro rodado na realização de fretes, o cenário para contratação de serviços de transporte pelos comerciantes e exportadores de café passou nos últimos dez dias de “difícil” para “crítico”.

 

Verificam-se cancelamentos de serviços de fretes por parte de empresas de transporte, mesmo tendo sido agendados com antecedência de até 30 dias, sob a alegação de não haver disponibilidade de motoristas.  Observa-se grande disparidade de preços de fretes e falta segurança para o fechamento de negócios uma vez que não mais são apresentadas pelas transportadoras, como era de praxe, tabelas de preços para determinado período, sendo os valores dos fretes cotados no momento da contratação, sem dar previsibilidade mínima para negócios futuros. Além disso, observa-se incrementos bruscos de preços até mesmo de um dia para o outro. De um modo geral, têm sido praticados valores acima das tabelas propostas pela ANTT com casos que chegam até 60% além do preço médio vigente antes de maio.

 

Como conseqüência direta dessa situação, nessa época do ano, com a colheita em andamento, o fluxo atual de entrega de cafés para o mercado interno caiu em média 25%, chegando em algumas empresas a cair 100%. Sem entregarem seus produtos, as empresas não podem faturá-los, comprometendo seus caixas com custos de armazenagem e, numa situação extrema, sem girarem o estoque não haverá como recepcionarem cafés de produtores rurais. As recentes altas do dólar que tecnicamente favorecem as exportações, em alguns casos não puderam ser aproveitadas devido às incertezas quanto aos serviços de transporte. Em resumo, há relativa insegurança para comprar ou vender café.

 

Todo o negócio cafeeiro, do comércio exportador até as indústrias, trabalha com margens muito apertadas, num mercado dinâmico cujos preços são determinados internacionalmente sob influência de fatores como clima e produção de outros países concorrentes do Brasil. Num contexto como o que enfrentamos, repassar custos de um elo da cadeia para o outro pode fechar mercados que foram conquistados duramente. Internamente, nossos clientes já sinalizaram que não têm condições de absorverem custos decorrentes do aumento de preços de fretes. O agravamento dessa situação certamente poderá forçar a redução dos preços repassados ao produtor rural. No caso das cooperativas de produtores rurais, que absorvem e distribuem grandes volumes, compromete-se a integralização de capital dos cooperados.

 

Diante do exposto, o Centro do Comércio de Café de Vitória alerta que se perdurarem as dificuldades elencadas para contratação de fretes, para o mercado local de café paralisar será uma questão de tempo. Apesar disso, repudiamos atitudes oportunistas de qualquer parte que se valem das dificuldades que enfrentam os caminhoneiros, comuns a muitos setores de nossa economia.

 

Reiteramos nossa crença em princípios como a livre iniciativa, a auto regulação do mercado e no estrito papel do Estado de criar condições para a livre concorrência, infra-estrutura eficiente e diversificada para escoamento de nossas cargas, e ambiente seguro para negócios. Continuaremos envidando esforços na ANTT e no Ministério dos Transportes, em conjunto com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, no sentido de elucidar os impactos negativos da Medida Provisória 832/18 e da Resolução ANTT nº 5.820/18 sobre o negócio café.

 

Encaremos aos envolvidos nesse contexto, principalmente Governo Federal e atores do segmento de transporte rodoviário de cargas, que encontrem urgentemente um desfecho justo e que restabeleça o fluxo normal do comércio de café.

 

Vitória, 15 de junho de 2018.

JORGE LUIZ NICCHIO

Presidente