Diante
das consequências emanadas da greve dos caminhoneiros ocorrida no último mês de
maio e das tentativas do Governo Federal de estabelecimento de preços mínimos
de fretes rodoviários, o Centro do Comércio de Café de Vitória, associação de
classe que representa os comerciantes e exportadores de café do Estado do
Espírito Santo, vem a público compartilhar acerca do momento crítico pelo qual
atravessa o setor e seus possíveis resultados para a cafeicultura capixaba.
O
Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do Brasil, respondendo por cerca
de 25% da produção nacional. Em se tratando de café do tipo conilon, participamos
com 75% da produção nacional, sendo líder nesse segmento. O conilon é altamente
demandado pela indústria nacional, um setor que processa anualmente cerca de
1,3 milhões de toneladas de café verde.
Durante
os últimos três anos, o Espírito Santo produziu menos do que a sua capacidade
em função da longa estiagem que atravessou, entretanto, em 2018 espera-se uma
produção bem próxima do recorde histórico. Iniciada em maio, a colheita já
vinha possibilitando o incremento das exportações de café, contudo, em maio,
devido à greve dos caminhoneiros, as vendas para o exterior ficaram cerca de
37% abaixo do esperado.
Com
o desfecho da greve e após a edição da Resolução da ANTT n.º 5.820/2018 que
publicou as tabelas de preços mínimos de quilômetro rodado na realização de
fretes, o cenário para contratação de serviços de transporte pelos comerciantes
e exportadores de café passou nos últimos dez dias de “difícil” para “crítico”.
Verificam-se
cancelamentos de serviços de fretes por parte de empresas de transporte, mesmo
tendo sido agendados com antecedência de até 30 dias, sob a alegação de não
haver disponibilidade de motoristas.
Observa-se grande disparidade de preços de fretes e falta segurança para
o fechamento de negócios uma vez que não mais são apresentadas pelas
transportadoras, como era de praxe, tabelas de preços para determinado período,
sendo os valores dos fretes cotados no momento da contratação, sem dar
previsibilidade mínima para negócios futuros. Além disso, observa-se
incrementos bruscos de preços até mesmo de um dia para o outro. De um modo
geral, têm sido praticados valores acima das tabelas propostas pela ANTT com
casos que chegam até 60% além do preço médio vigente antes de maio.
Como
conseqüência direta dessa situação, nessa época do ano, com a colheita em
andamento, o fluxo atual de entrega de cafés para o mercado interno caiu em
média 25%, chegando em algumas empresas a cair 100%. Sem entregarem seus
produtos, as empresas não podem faturá-los, comprometendo seus caixas com
custos de armazenagem e, numa situação extrema, sem girarem o estoque não
haverá como recepcionarem cafés de produtores rurais. As recentes altas do
dólar que tecnicamente favorecem as exportações, em alguns casos não puderam
ser aproveitadas devido às incertezas quanto aos serviços de transporte. Em resumo,
há relativa insegurança para comprar ou vender café.
Todo
o negócio cafeeiro, do comércio exportador até as indústrias, trabalha com
margens muito apertadas, num mercado dinâmico cujos preços são determinados
internacionalmente sob influência de fatores como clima e produção de outros
países concorrentes do Brasil. Num contexto como o que enfrentamos, repassar
custos de um elo da cadeia para o outro pode fechar mercados que foram conquistados
duramente. Internamente, nossos clientes já sinalizaram que não têm condições
de absorverem custos decorrentes do aumento de preços de fretes. O agravamento
dessa situação certamente poderá forçar a redução dos preços repassados ao
produtor rural. No caso das cooperativas de produtores rurais, que absorvem e
distribuem grandes volumes, compromete-se a integralização de capital dos
cooperados.
Diante
do exposto, o Centro do Comércio de Café de Vitória alerta que se perdurarem as
dificuldades elencadas para contratação de fretes, para o mercado local de café
paralisar será uma questão de tempo. Apesar disso, repudiamos atitudes
oportunistas de qualquer parte que se valem das dificuldades que enfrentam os
caminhoneiros, comuns a muitos setores de nossa economia.
Reiteramos
nossa crença em princípios como a livre iniciativa, a auto regulação do mercado
e no estrito papel do Estado de criar condições para a livre concorrência,
infra-estrutura eficiente e diversificada para escoamento de nossas cargas, e
ambiente seguro para negócios. Continuaremos envidando esforços na ANTT e no Ministério
dos Transportes, em conjunto com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil,
no sentido de elucidar os impactos
negativos da Medida
Provisória 832/18 e da Resolução ANTT nº 5.820/18 sobre o negócio café.
Encaremos aos envolvidos
nesse contexto, principalmente Governo Federal e atores do segmento de
transporte rodoviário de cargas, que encontrem urgentemente um desfecho justo e
que restabeleça o fluxo normal do comércio de café.
Vitória,
15 de junho de 2018.
JORGE LUIZ NICCHIO
Presidente