A escassez de oferta de café da
espécie conilon no Brasil em decorrência, sobretudo, da seca no Espírito Santo
levou os preços dessa matéria-prima a patamares recorde no país. Diante desse
quadro, as torrefadoras têm dificuldade de encontrar café para seus blends
assim como as empresas de solúvel. Além disso, a alta fez diminuir a diferença
entre os preços do conilon e do arábica, espécie mais valorizada no mercado.
Ontem, o indicador Cepea Esalq para
conilon alcançou R$ 452,61 por saca, recorde em termos nominais. O valor também
é recorde se deflacionado, considerando o IGP-DI de agosto.
O principal motivo para a valorização
do conilon foi a quebra da safra 2016/17 no Espírito Santo, maior produtor da
espécie no país. De acordo com a Conab, a produção brasileira no ciclo deve
somar 8,35 milhões de sacas, 25,3% abaixo do colhido na safra 2015/16. No
Estado, a colheita deve recuar 30,7%, para 5,380 milhões de sacas, reflexo da
falta de chuvas e altas temperaturas. Neste momento, aliás, o Espírito Santo
enfrenta racionamento de água, inclusive nas regiões produtoras de café, muitas
delas com áreas irrigadas.
A menor disponibilidade de conilon no
mercado fez as torrefadoras mudarem o blends dos cafés. As empresas que
produzem café torrado e moído tradicional utilizavam, em média, 50% de conilon
e 50% de arábica em seus blends, de acordo com Nathan Herszkowicz,
diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Agora,
com a escassez de conilon, as torrefadoras tiveram de aumentar a quantidade de
arábica no blend para entre 80% e 90%, em média, afirma.
Os cafés que estão substituindo o
conilon nos blends, acrescenta, são o arábica consumo interno duro e o arábica
tipo 8, considerados tipos mais fracos.
Dados compilados pela Abic de preços
de cafés em grão levantados por diferentes fontes no mercado brasileiro mostram
que a menor oferta de conilon fez a diferença entre a cotação dessa espécie e a
do arábica diminuir. "O preço do conilon era entre 15% e 20% mais barato
que o do arábica", diz. Mas isso mudou.
Segundo os dados compilados pela
Abic, em julho de 2015, a diferença entre o conilon bica corrida tipo 7 e o
arábica bebida dura tipo 7 era de 25%. No último dia 21 deste mês, o conilon
estava 13% mais barato que o arábica. E acompanhamento Pharos Commodity Risk
Management mostra que há conilon mais caro do que o arábica no mercado. (ver
gráfico abaixo)
Com essa substituição da
matéria-prima, há um aumento do custo da indústria, de acordo com o
diretor-executivo da Abic. A maior procura também acaba dando sustentação às
cotações dos arábicas no mercado.
Indústria que demanda 4,5 milhões de
sacas de conilon por ano, a de café solúvel tem tido cada vez mais dificuldades
para encontrar matéria-prima no mercado. Aguinaldo José de Lima, diretor de
relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel
(Abics), afirma que a situação é preocupante por dois motivos: "Os preços
não caíram mesmo com a colheita concluída e há dificuldade de encontrar lotes,
que quando surgem são muito disputados", relata.
Das 4,5 milhões de sacas de café
conilon que consome, a indústria de solúvel exporta o equivalente a 3,6 milhões
de sacas. Mas a redução da competitividade do produto brasileiro em relação a
outras origens preocupa, diz Lima, que defende como saída a importação, se
necessário. Segundo ele, o conilon brasileiro hoje está mais caro que o de
outras origens importantes, como Indonésia, Vietnã e Uganda.
Afora a produção menor de conilon
nesta safra, há menos oferta da matéria-prima porque os produtores estão
vendendo com "parcimônia", afirma Herszkowicz. Edimilsom Calegari,
gerente geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), de
São Gabriel da Palha (ES), diz que os produtores estão segurando a venda do
café por causa da estiagem persistente, que já coloca em xeque a próxima safra,
a 2017/18, no Estado.
Os cafezais do Estado já tiveram as
primeiras floradas, mas agora são necessárias chuvas para que outras ocorram e
para que as flores vinguem. "Os produtores estão esperando o clima mudar
para poder investir novamente nas lavouras. [Senão] Vender para quê? Para aplicar
no banco?", indaga.
Moris Mermelstein, consultor sênior
da Pharos, afirma que há pouco conilon disponível porque o produtor está
"meio temeroso em vender". Além de avaliar que o preço pode subir
mais, os produtores estão esperando as próximas chuvas e floradas para estimar
a safra 2017/18, diz. "Se forem boas, ficarão mais agressivos" nas
vendas, acredita.
Para ele, a tendência é os preços do
conilon continuarem firmes, até porque há menor oferta também em nível
internacional e a demanda por robusta – outra denominação do conilon – cresce
mais que pelo arábica.
Thiago Cazarini, da Cazarini Trading,
também acredita em continuidade da valorização, uma vez que os indícios são de
que a próxima safra capixaba ainda deve ser prejudicada pelo clima seco.
Os estoques baixos de café no país
reforçam a tendência de alta, diz Herszkowicz, da Abic.
Por Alda do Amaral Rocha | De
São Paulo
Fonte : Valor
Foto de capa: Lavoura de conilon no município de Águia Branca - ES. Colaboração: CETCAF