Por Patrik Camporez - pmacao@redegazeta.com.br
Um estudo inédito do Instituto Capixaba
de Pesquisa e Extensão Agropecuária (Incaper) identificou pelo menos oito
pragas que têm potencial capacidade para destruir cafezais capixabas e
brasileiros, caso a importação dos grãos seja liberada pelo governo federal.
“São doenças que vêm na embalagem e nas sacarias. Se não for feita uma avaliação
de risco desse material, essas pragas têm grande chance de vir para o Brasil”,
alerta o presidente do Incaper, Marcelo Suzart.
Os resultados do estudo, o qual A
GAZETA teve acesso com exclusividade, vai ser apresentado para o governo do
Estado e para a bancada capixaba na Câmara Federal e no Senado, na próxima
semana. O material, com mais de 200 páginas, foi desenvolvido pelos pesquisadores
José Aires Ventura e Romário Gava Ferrão. A ideia é que os resultados sirvam de
ferramenta para impedir que o mercado brasileiro seja inundado com café do
exterior, o que diminuiria a competitividade dos nossos grãos e prejudicaria os
produtores locais.
Nos cálculos do Incaper, a
importação de café robusta para o Brasil vai afetar 120 mil famílias do setor, que
trabalham numa área de 400 mil hectares de sete Estados, com maior impacto para
o Espírito Santo, Rondônia e Bahia. No Estado, a cafeicultura é a principal
atividade agrícola, estando em aproximadamente 60 mil das 90 mil propriedades.
São 133 mil famílias vivendo do ramo, sobretudo pequenos produtores de base
familiar.
QUEDA DE BRAÇO
Tudo indica que o Ministro da
Agricultura Blairo Maggi vai recomendar ao governo federal a importação
temporária dos grãos, para abastecer as torrefadoras que estariam enfrentando
crise de abastecimento. Em entrevista concedida ontem ao jornal “Folha de S. Paulo”,
porém, Maggi não garantiu que a medida será aprovada, por enfrentar forte
oposição de parlamentares ligados aos cafeicultores. “Tecnicamente estamos bem
embasados e eu estou convencido que isso (a importação) deverá ser feito. Mas é
um tema muito delicado para o Brasil. Raríssimas vezes o Brasil importou café,
e tem uma resistência muito forte por parte dos produtores, especialmente os do
Espírito Santo, e os políticos do Espírito Santo estão mobilizados”, disse Blairo.
“É uma briga grande”.
Já o governo do Espírito Santo
tem uma posição muito clara a respeito da importação de café. “Somos
completamente contra. Não vamos aceitar qualquer tipo de liberação da
importação. Vamos atuar na defesa intransigente do nosso produtor rural. Há um
conjunto de fatores que justificam a posição contrária do Estado”, destacou o secretário
de Estado da Agricultura, Octaciano Neto.
Além das questões
fitossanitárias, ele destaca fatores como a seca histórica dos últimos três
anos, que fez com que o custo da produção aumentasse. “Não faz sentido importar
café para prejudicar um produtor rural que trabalhou e sofreu nos últimos três
anos. O segundo problema é o aumento dos custos, que elevaram demais.”
O secretário também rebate o
argumento da indústria, que justifica que o estoque interno de grão é insuficiente,
de 2,2 milhões de sacas. “Nós olhamos com o conjunto do governo nos estoques
particulares, cooperativas, empresas e temos mais de 4 milhões de sacas de café
disponíveis para a indústria comprar. Não dá para admitir essa conversa da
indústria de que não há café suficiente”, completa.
DOENÇAS MAPEADAS PELO INCAPER
1) Coffee Berry Disease Causa
perdas de até 75% na produção. A infecção dos grãos é mais claramente
diagnosticada nos frutos jovens. Os grãos são destruídos e acabam ficando
chocos e sem valor comercial.
2) Coffee Wilt Disease A
severidade da doença chegou a 90% nas plantações do Congo e, mais recentemente,
em Uganda e na região do Lago Vitória, na Tanzânia. Causa a morte das plantas.
3) Brocas dos Ramos e Tronco do
Cafeeiro Várias espécies de besouros têm sido relatadas em países da África e
da Ásia, causando elevadas perdas nas plantas e consequente redução da
produtividade. Os ovos destas pragas poderão vir aderidos à sacaria do café
importado.
4) Cochonilhas São insetos
pequenos que sugam a seiva. As perdas econômicas destas pragas incluem os
custos do controle que globalmente são estimados ser de aproximadamente US$ 5
bilhões por ano.
5) Striga Planta parasita que
penetra através do sistema radicular da plana hospedeira, causando efeitos como
a redução na fotossíntese.
6) Monilíase do cacaueiro É uma
doença causada pelo fungo Moniliophthora Roreri, que pode reduzir em até 80% a
produção de cacau.
7) Mal-do-Panamá Em países como o
Brasil, o cultivo de bananeiras costuma ser consorciado com o café, passando a
doença de e uma planta para a outra
8) Xanthomonas da Bananeira É uma
nova e altamente devastadora doença da bananeira. A transmissão ocorre através
dos insetos, pássaros e morcegos.