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16/02/2017

Uso de conilon nos blends da indústria cai à metade

Por Alda do Amaral Rocha – de São Paulo

 

Obrigada a mudar seus blends desde o ano passado em decorrência da menor oferta de café conilon no mercado doméstico brasileiro, a indústria torrefadora reduziu para cerca da metade seu consumo do produto em 2016. E o cenário tende a se repetir este ano, de acordo com Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

 

Até 2015, a indústria usava, em média, 8 milhões de sacas de café da espécie conilon e 12 milhões de sacas da espécie arábica em seus blends por ano. Mas em 2016, com a quebra na safra brasileira de conilon, que reduziu a oferta, a utilização do produto caiu para entre 4 milhões e 5 milhões de sacas, estima Herszkowicz. Para este ano, a expectativa é que fique entre 3 milhões e 4 milhões de sacas. Essa demanda esperada para 2017 envolve café brasileiro ou eventualmente robusta importado. (ver texto abaixo)

 

A indústria torrefadora de café do país utilizava, normalmente, 40% a 50% de café conilon em seus blends com o arábica. Mas essa proporção caiu para cerca de 15% a 20% de conilon no segundo semestre de 2016, conforme Herszkowicz, com a menor oferta. "A indústria mudou [os blends] para se adaptar à nova situação", explica o executivo da Abic.

 

A oferta reduzida – principalmente devido à seca no Espírito Santo, maior produtor da espécie no país – fez os preços do conilon subirem de forma expressiva no Brasil, elevando os custos das torrefadoras. O indicador Cepea/Esalq para o conilon chegou a bater R$ 552,28 por saca em 14 de novembro passado – não muito distante dos R$ 563,25 do arábica – que costuma ser mais valorizado – no mesmo dia. Desde então, tem recuado, e ficou em R$ 443,61 ontem.

 

Para driblar a alta da matéria-prima, as empresas recorreram à substituição do conilon por arábica mais fracos (como o tipo 8), sobretudo, mas também a arábicas de tipos melhores, como o 6, segundo Herszkowicz.

 

Gerente geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel, em São Gabriel da Palha (Cooabriel), a mais importante cooperativa de café conilon do Espírito Santo, Edimilsom Calegari avalia que quando a oferta se normalizar, a indústria voltará a usar conilon. Ele vê na estratégia da indústria torrefadora de mudar os blends também uma forma de reduzir os preços do conilon.

 

"Se o preço estiver mais baixo, a indústria voltará a utilizar conilon", afirma. Calegari admite, porém, que a produção no Espírito Santo deve ficar praticamente estável na safra 2017/18, que começa a ser colhida em maio. A Conab estimou em janeiro que a colheita de conilon no Estado deve ficar entre 4,605 milhões e 5,295 milhoes de sacas – no ciclo 2016/17 somou 5,035 milhões de sacas.

 

Segundo o diretor-executivo da Abic, a tendência é de que a nova proporção no blend seja mantida este ano pois a indústria teme que a oferta de café fique escassa novamente no segundo semestre. A razão para o temor, diz, são os estoques baixos de conilon e a perspectiva de mais uma safra pequena no Brasil.

 

Levantamento da Conab de janeiro mostrou que havia 2,14 milhões de sacas de café conilon em estoques privados do Espírito Santo e Bahia. Mas a Abic avalia que o número pode ser inferior, uma vez que parte desse café pode ser de empresas que compraram e deixaram o produto estocado.

 

A Conab estima que a produção de conilon no país na safra 2017/18 deve ficar entre 8,64 milhões e 9,63 milhões de sacas. O aumento deve ficar de 8,1% a 20,5% ante o ciclo 2016/17, quando a colheita havia recuado quase 30% por causa da seca.

 

Calegari, da Cooabriel, afirma que os estoques atuais da cooperativa somam 403 mil sacas de conilon. Um ano atrás eram um pouco maiores: 427 mil sacas. Ele reconhece que a menor compra de conilon pelas indústrias desde o ano passado pode ter regulado os estoques, que tiveram queda pequena, no caso da cooperativa, apesar da safra menor.

 

Para Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Commodity Risk Management, a alta dos preços do conilon no ano passado levou as torrefadoras a alterarem os blends do café. Este ano, diz, a redução deve persistir e a razão será a oferta de conilon, que deve continuar restrita, reflexo, em parte, do clima desfavorável durante o período de granação dos cafezais.

 

Fonte : Valor Econômico, 16/02/2017, p. B15. Foto: Cláudio Belli/Valor