Por
Alda do Amaral Rocha – de São Paulo
Obrigada
a mudar seus blends desde o ano passado em decorrência da menor oferta de café
conilon no mercado doméstico brasileiro, a indústria torrefadora reduziu para
cerca da metade seu consumo do produto em 2016. E o cenário tende a se repetir
este ano, de acordo com Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação
Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Até
2015, a indústria usava, em média, 8 milhões de sacas de café da espécie
conilon e 12 milhões de sacas da espécie arábica em seus blends por ano. Mas em
2016, com a quebra na safra brasileira de conilon, que reduziu a oferta, a
utilização do produto caiu para entre 4 milhões e 5 milhões de sacas, estima
Herszkowicz. Para este ano, a expectativa é que fique entre 3 milhões e 4
milhões de sacas. Essa demanda esperada para 2017 envolve café brasileiro ou
eventualmente robusta importado. (ver texto abaixo)
A
indústria torrefadora de café do país utilizava, normalmente, 40% a 50% de café
conilon em seus blends com o arábica. Mas essa proporção caiu para cerca de 15%
a 20% de conilon no segundo semestre de 2016, conforme Herszkowicz, com a menor
oferta. "A indústria mudou [os blends] para se adaptar à nova
situação", explica o executivo da Abic.
A
oferta reduzida – principalmente devido à seca no Espírito Santo, maior
produtor da espécie no país – fez os preços do conilon subirem de forma
expressiva no Brasil, elevando os custos das torrefadoras. O indicador
Cepea/Esalq para o conilon chegou a bater R$ 552,28 por saca em 14 de novembro
passado – não muito distante dos R$ 563,25 do arábica – que costuma ser mais
valorizado – no mesmo dia. Desde então, tem recuado, e ficou em R$ 443,61
ontem.
Para
driblar a alta da matéria-prima, as empresas recorreram à substituição do
conilon por arábica mais fracos (como o tipo 8), sobretudo, mas também a
arábicas de tipos melhores, como o 6, segundo Herszkowicz.
Gerente
geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel, em São Gabriel da Palha
(Cooabriel), a mais importante cooperativa de café conilon do Espírito Santo,
Edimilsom Calegari avalia que quando a oferta se normalizar, a indústria
voltará a usar conilon. Ele vê na estratégia da indústria torrefadora de mudar
os blends também uma forma de reduzir os preços do conilon.
"Se
o preço estiver mais baixo, a indústria voltará a utilizar conilon",
afirma. Calegari admite, porém, que a produção no Espírito Santo deve ficar
praticamente estável na safra 2017/18, que começa a ser colhida em maio. A
Conab estimou em janeiro que a colheita de conilon no Estado deve ficar entre
4,605 milhões e 5,295 milhoes de sacas – no ciclo 2016/17 somou 5,035 milhões
de sacas.
Segundo
o diretor-executivo da Abic, a tendência é de que a nova proporção no blend
seja mantida este ano pois a indústria teme que a oferta de café fique escassa
novamente no segundo semestre. A razão para o temor, diz, são os estoques
baixos de conilon e a perspectiva de mais uma safra pequena no Brasil.
Levantamento
da Conab de janeiro mostrou que havia 2,14 milhões de sacas de café conilon em
estoques privados do Espírito Santo e Bahia. Mas a Abic avalia que o número
pode ser inferior, uma vez que parte desse café pode ser de empresas que
compraram e deixaram o produto estocado.
A
Conab estima que a produção de conilon no país na safra 2017/18 deve ficar
entre 8,64 milhões e 9,63 milhões de sacas. O aumento deve ficar de 8,1% a
20,5% ante o ciclo 2016/17, quando a colheita havia recuado quase 30% por causa
da seca.
Calegari,
da Cooabriel, afirma que os estoques atuais da cooperativa somam 403 mil sacas
de conilon. Um ano atrás eram um pouco maiores: 427 mil sacas. Ele reconhece
que a menor compra de conilon pelas indústrias desde o ano passado pode ter
regulado os estoques, que tiveram queda pequena, no caso da cooperativa, apesar
da safra menor.
Para
Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Commodity Risk Management, a alta dos preços
do conilon no ano passado levou as torrefadoras a alterarem os blends do café.
Este ano, diz, a redução deve persistir e a razão será a oferta de conilon, que
deve continuar restrita, reflexo, em parte, do clima desfavorável durante o
período de granação dos cafezais.
Fonte
: Valor Econômico, 16/02/2017, p. B15. Foto: Cláudio Belli/Valor